SINOPSE
"A ROTA DO OURO NEGRO"
Estamos a 22 de janeiro de 1808. Ao 54º dia de mar, finalmente avisto aquela que
viria a tornar-se a minha terra – Salvador da Baía.
À saída do barco deparo-me com um grande mercado, repleto de gaiolas com
diversos animais que emitiam sons ensurdecedores, cheiros a ervas, sopas
borbulhantes…e negros acorrentados como se de animais se tratassem, a serem
vendidos a preço de ouro.
D. João esteve apenas 34 dias na Bahia. No entanto este foi o tempo
fundamental para transformar e destravar a economia do Brasil e promover o
crescimento da cidade, expandindo-a para o mundo.
Nesta minha passagem pela Bahia, os caminhos que percorri levaram-me àquela
que viria a tornar-se a capital do Cacau (Ilhéus), após o investimento do governo
português no cultivo daquele que já era considerado o ouro negro – o Cacau.
A magia com que Jorge Amado descreve a sua Ilhéus ao longo das suas obras,
fazem qualquer um sentir-se em casa, sonhando com toda uma riqueza efémera
possibilitada pelos grãos de ouro, como se dos famosos coronéis do Cacau se
tratassem, quando frequentavam o Vesúvio para mais tarde se irem deleitar nos braços
das suas amantes no famoso Bataclan, enquanto as esposas permaneciam na missa.
O vislumbre da riqueza que brotava naquele pedaço do solo sagrado da Mata
Atlântica fazia qualquer um desejar ser uma das suas personagens.
Assisti durante décadas ao apogeu de muitos coronéis cheios de ostentação. Nas
suas terras, recorriam a mão de obra barata e subserviente. As suas gentes tratavam
dos seus pés de cacau, como se deles fossem, em troca de um pedaço de pão.
Aquelas cores vibrantes aqueciam o coração e a alma de quem ali trabalhava e
se dedicava, como se de um tesouro se tratasse.
Até que a Vassoura de Bruxa chegou…. Inesperada, silenciosa, desconhecida por
todos.
O Cacau apodreceu, secou, e o que era ouro de repente deixou de brilhar. O
pânico de uma praga desconhecida instalou- se, sem solução à vista. Era o fim
anunciado de uma época gloriosa.
Enquanto isso, chegavam notícias da Europa, que as colónias teriam iniciado o
cultivo de mudas de Cacau. Em África já se investia naquele que em tempos tinha sido
considerado por todos – O Ouro Negro. Com o passar dos anos, a Costa do Marfim
tornara-se o maior produtor a nível mundial de Cacau, abastecendo praticamente os
quatro cantos do mundo.
A Espanha, chegaram sementes de cacau através de Cortés, que o descobriu
numa das suas expedições às Américas. De paladar caracteristicamente amargo e
ácido, o Cacau não tinha sido bem aceite na Europa, sendo declinado por todos. Mas
foi através das mãos de monges que o Cacau sob a forma de bebida, tal e qual como
era consumida nos seus primórdios, foi deveras apreciada e transformada através da
adição de grãos de açúcar e especiarias, tornando-o muito mais apelativo, sensorial,
chegando a ser-lhe atribuído uma conotação religiosa, que fez com que estas receitas
permanecessem durante anos e anos em segredo na corte espanhola.
Com o casamento de Ana de Áustria, rainha de Espanha, com Luís XIII, rei de
França, esta introduz o chocolate nas mesas da corte francesa, expandindo a moda às
restantes cortes da Europa.
Estamos em plena revolução industrial, e em Inglaterra, à semelhança dos
restantes países na Europa, o cacau consumido sob a forma de chocolate tornara-se
um hábito quase do dia a dia.
Em 1828, no embalo da industrialização, o químico Van Houten, cria a primeira
prensa que separa a manteiga de cacau do restante da massa, originando o cacau em
pó. Nesta era surge assim, em Inglaterra a primeira fábrica de produção de chocolate
solido – a Fry´s.
Os anos foram passando e o fruto que um dia foi renegado pelo seu sabor
característico, tornou-se um dos produtos mais consumidos no mundo inteiro – o
Chocolate. O seu paladar tornou-se guloso, prazeroso e apetitoso pelas mãos de
Daniel Peter, famoso mestre chocolateiro suíço, ao adicionar leite condensado na sua
receita.
Passei a minha vida toda a deliciar-me com o aroma e sabor característico do
Cacau. Vi, vivi, e sonhei muito neste imaginário que um dia foi realidade e que me traz
até aos dias de hoje, a apreciar cada pedaço de chocolate que se derrete na minha
boca…sendo ele branco, negro, ao leite ou ruby.
SAMBA ENREDO CARNAVAL 2025
COMPOSITORES: CARLOS PINHO, LEQUINHO DA MANGUEIRA E JUNIOR FIONDA
VELAS AO VENTO
A CALUNGA É TRAVESSIA
APORTAMOS N
A BAHIA
TERRA DE SÃO SALVADOR
RUFAM OS TAMBORES DA MAGIA
SUA FÉ NO DIA A DIA
SEU TEMPERO, SEU SABOR
Ê “CORONÉ”, NÃO SE VIVE SÓ DE PÃO
PRA CRESCER O SEU IMPÉRIO
MEU SUOR TOCOU O CHÃO
NO BATACLAN, A LUA TECE O VÉU
PELO OLHAR DE JORGE AMADO
ME APAIXONO POR ILHÉUS
É FRUTO DOS DEUSES, AROMA NO AR
O DOCE GOSTO DE QUEM SABE AMAR
DA COR DO PECADO, MOVIMENTO SENSUAL
TEM MELANINA NA COLHEITA DO CACAU
E FOI-SE A LUZ, O BRILHO SE PERDEU
A DOR TRADUZ
QUANDO O SOLO ADOECEU
GERMINA ENFIM,
NO MESMO MAR, EM OUTRA “COSTA”
JOIA EM FORMA DE SEMENTE
FOI PRA MESA DA NOBREZA
SABOROSAMENTE CONQUISTOU A REALEZA
NA REVOLUÇÃO, A DELÍCIA VIROU BARRA
A RECEITA É DA SUÍÇA
E ATÉ HOJE O PRAZER NÃO SE COMPARA
TEM QUE RESPEITAR A MINHA BANDEIRA
OURO NEGRO VAI BRILHAR NA PIONEIRA
FAZER SAMBA É O MEU DOM, É MINHA ARTE
COSTA DE PRATA NA AVENIDA É CHOCOLATE